O
naturalista francês, Auguste de Saint-Hilaire, percorreu o Brasil ao longo de 6
anos, (1816 – 1822), além da sua contribuição para a Botânica, teve um olhar
arguto sobre usos e costumes, pessoas, políticas e administração.
Auguste
François Cesar Prouvençal de Saint-Hilaire, nasceu em 1779, na cidade de
Orleães na França, cresceu no Chateau da La Turpiniere. Estudou história
natural, tornando-se botânista.
Obteve
cartas de recomendação necessárias para peregrinar pelo Brasil como visitante
oficial, recebendo a ajuda que precisasse. Chegou no Brasil em 1816
acompanhando a missão extraordinária do Duque de Luxemburgo, com a aprovação do
Museu de História Natural de Paris e o financiamento do Ministério do Interior
para realizar seus estudos e mandar amostras da flora local para os museus da
França.
O
nome Auguste de Saint-Hilaire tornou-se conhecido no Brasil não somente pelos
seus trabalhos sobre Botânica, mas sobre tudo pelos prolíficos relatos de suas
viagens pelo interior do país. De fato, sua obra é considerada como fonte
excepcional e obrigatória pelos especialistas, brasileiros de vários campos das
ciências humanas sociais.
Tinha
muito conhecimento do português, falava dos problemas do país de forma
delicada, mostrando preocupação com a situação do Brasil, se preocupava com as
queimadas nas florestas. Em suas viagens percorreu vários estados, e um deles
foi o Rio Grande do Sul. Viajou a cavalo ou no lombo de burro, por sertões na
maioria das vezes por picadas abertas a facão por seus acompanhantes, ainda escravos.
Viagens muito cansativas, falta de comida, privações, dormir em redes, perder o
medo de animais selvagens.
Era
tratado como tenente-coronel por seus colaboradores, era visto como médico,
afinal colher plantas era hábito apenas de médicos e curandeiros.
Apesar
das muitas dificuldades, o botânico se via absolutamente encantado pela riqueza
vegetal, e arranjava força e coragem para seguir viajando.
No
dia 5 de junho de 1820, o botânico e naturalista francês Auguste de
Saint-Hilaire, cruzou o Rio Mampituba e entrou na capitania de São Pedro do Rio
Grande do Sul. Já trazia consigo a experiência de quase quatro anos de viagens
pelo interior do Brasil.
Fez
um trabalho científico minucioso, principalmente no que se refere a
herborização. Ao término de sua viagem, obteve uma grande coleção e catalogação
de sete mil espécies de plantas. Acervo que seria entregue ao Museu de História
Natural de Paris.
Ao
cruzar o Mampituba, Sain-Hilaire, escreve em seu diário:
“Esta viagem vai se tornando cada vez mais
penosa, contribuindo para o esgotamento de minhas forças e de meu ânimo. A
imagem de minha mãe apresenta-se sem cessar em meu espírito, e, sempre me
encontro sem ter com o que me distrair vejo-me cercado de pessoas
descontentes.”
Mas
nada que o impeça de trabalhar, herborizar, sempre salientava. Passou por
montes, torres, admira cactáceas, um grande Eryngium, e entre bromelácias e
arbustos, contata a mirtácea chamada pitanga.
Além
do lado botânico naturalista, também registra que em meio a magnífica desolada
paisagem, vivem camponeses muito pobres morando em míseras cabanas. Mas também
constata que não falta comida.
Apesar
das primeiras impressões, logo percebe que a Capitania do Rio Grande do Sul é
uma das mais ricas do Brasil. Seu astral melhora ao chegar nos campos de Viamão
e logo depois à Porto Alegre. Passou mais de mês em Porto Alegre, considerou
mais suja que o Rio de Janeiro, por outro lado, não deixa de ressaltar as suas
belezas. Escreve:
“Raros
são os passeios tão encantadores como o do Caminho Novo (atual Voluntários da
Pátria), o qual lembra tudo quanto existe de mais agradável na Europa.”
(Saint-Hilaire, 1974).
A
partir de Porto Alegre, que Saint-Hilaire começará a entender realmente a
complexidade dos interesses políticos, econômicos e militares que mapeia
regiões e recolhe dados sobre a flora, a fauna, exportações e importações.
Saint-Hilaire
retornou a seu país de origem e só retornou ao Rio Grande do Sul em 1821,
percorrendo as Missões.
Muitas
anotações neste percurso da volta ao RS.
A
fertilidade dos solos, capazes de produzir cereais em abundância, frutas de
clima temperado, e as pastagens garantem uma carne de excelente qualidade e um
magnifico leite.
Sua
curiosidade em relação a economia faz com que obtenha informações e liste as
importações e as exportações dos anos anteriores aos da sua chegada, elas dão
um bom quadro do movimento comercial da época.
O
Rio Grande do Sul que Saint-Hilaire conheceu era um espaço geográfico sujeito a
guerra de fronteiras ainda não definidas. Uma praça de guerra, um grande
acampamento militar em meio ao qual tentavam sobreviver, brancos, índios,
negros e mestiços.
Teve
uma relação de desprezo com os índios, e isso será recorrente em todo o livro.
Se apega a ideia de que o principal problema dos índios é a sua falta de noção
do futuro, apegando-se unicamente ao presente.
Também
testemunhou várias senas tristes da escravidão no Brasil.
LEGADO.
Aristocrata,
Saint-Hilaire era seguidor de uma ideologia que preconizava uma hierarquia de
raças, que seria utilizada ao longo do século XIX.
Seu
livro, hoje, devido as considerações preconceituosas, sobre índios, negros,
mestiços, americanos em geral, pode seu considerado como racista.
Porém,
restringido aos valores e preconceitos do seu tempo, e na forma como descreveu
a sua viagem, misturando observações de cunho científico a confissões de ordem
pessoal, viagem ao Rio Grande do Sul, fora os diversos aportes históricos de
dados sociais, culturais e econômicos já citados, mostra um universo em
transição, de fronteiras não delineadas, de conflitos de interesses, onde se
digladiam brancos, portugueses, ou de origem, espanhóis, índios negros,
mestiços, representados pelos bárbaros gaúchos, lutando por espaços ou
liberdade.
Um
farto material para pesquisas de caráter histórico e científico.
SAINT-HILAIRE
depois de ter sido envenenado por mel de vespas, com o sistema nervoso
profundamente abalado, voltou buscar alívio no sul da França em 1822. Faleceu
em 03 de setembro de 1853 aos 74 anos, em Orleães, França.
Homenagens:
Em
1900, foi esculpido em bronze o busto do Botânico Frances no jardim Botânico do
Rio de Janeiro.
Em
2001, foi criado o Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange, na região de
Paranaguá no litoral do Paraná.
OBRAS:
*Viagem
do Rio a Minas Gerais, publicada em 1830.
*viagem
do Litoral ao Distrito Diamantino em 1833.
*viagem
de São Francisco e Goiás em 1847.
*viagem
de São Paulo a Santa Catarina em 1851.
*
viagem do Rio Grande do Sul a Cisplatina em 1887.
Grandes obras foram dedicadas às minhas
observações puramente científicas. Esta apresentará o painel duma natureza
estranha à Europa; nela se encontrarão detalhes de estatística e de geografia,
informações sobre agricultura, artes e comércio, e numerosas observações sobre
a geografia das plantas; resumirei o estado da religião entre brasileiros;
procurarei dar a conhecer a administração civil e judiciária do país;
descreverei os usos e costumes das províncias que visitei, e tentarei
transmitir uma ideia exata das populações selvagens.
Auguste de Saint-Hilaire-1830.
Pesquisa de:
Sandra Ferreira- 1 Chinoca do CTG Sentinelas
do Pago.
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