quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Especial ENART - Entrevista com Mauro Moura Pedroso.

 


Jornal farroupilha: Conte um pouco da sua trajetória tradicionalista até chegar a avaliar o ENART?

Mauro Pedroso: Sempre fui avaliador e instrutor de dança desde os 16 anos.

Tenho 26 anos de avaliador e 28 anos de instrutor.

Aos 18 anos comecei avaliar e nunca mais parei e até hoje nos dias atuais.

Tive a primeira oportunidade de avaliar o Enart no Ano de 1997 no primeiro de Santa Cruz mas por motivos particulares não pode ir.

Depois foi em 2001  fui convidado mas não aceitei por motivos particulares também

Mas em 2009 tive o convite e tive a honra de avaliar este Ano e depois foi vários Enarts.

Jornal Farroupilha:  Qual o momento que mais te marcou no ENART?

Mauro Pedroso: Momento mágico que marcou pra Mim foi 2009  no sorteio dos avaliadores que o Presidente do Mtg que fez o sorteio e tive a Graça de Deus e fui sorteado, nesta Época o Presidente que realizava o Sorteio.

Foi uma Emoção que não consegui ficar calmo e VIBREI  e todos me Elogiaram pela minha Emoção que passei para todos no Ginásio.

Jornal Farroupilha: Acredita que existem formas de melhorar o evento, quais?

Mauro Pedroso: Para melhorar o Enart, temos  que estudar muito para isto e de outras formas. Mas tem que começar pelo trabalho dos grupos que se preocupam muito nas coreografias de entrada e saída.

Jornal Farroupilha: Como é para ti poder avaliar o que é considerado o maior festival de Arte  Amadora da América Latina?

Mauro Pedroso:  Acho hoje temos grandes Eventos, grandes Rodeios e Festivais, eu já tive a Bênção de Deus de Avaliar todos os maiores Rodeios do estado e do Brasil e também o Enart.

Mas o Enart tem que ter uma preparação muito grande, não é só ir e dar nota  acredito que devemos sempre se preparar em todos os sentidos, mas é  uma Honra de fazer parte de uma Equipe do Enart.














 

Entrevista de :

Antonia Valim – Prenda Mirim Farroupilha Alvorada

Especial ENART - Entrevista com Roselita Terezinha Martins Machado.

 


Jornal Farroupilha :  E você, como iniciou sua trajetória tradicionalista?

Roselita Machado: Eu entro para o tradicionalismo em 2006 no CTG Tradição, fui coordenadora da mirim até o comecinho de 2012 quando acabou todas as invernadas do Tradição.

Só que eu e minha filha queríamos continuar aí resolvemos ir para o CTG Campeiros do sul.

Jornal Farroupilha:  Para a entrevista gostaríamos de saber sobre a trajetória do grupo adulto Campeiros do Sul, como foi o pré- enart?

Roselita Machado: Nossa trajetória com o grupo começou ainda quando eles eram da juvenil, em 2016 a maioria completava seus 18 anos, aí resolvemos passar todo o grupo para a adulta.

Aí começamos o projeto Enart 2017, foram dias e dias de muitos ensaios e muita correria atrás de dinheiro para o projeto que não era barato.

Jornal Farroupilha:  Qual foi a parte mais difícil, que vocês encontraram mais dificuldades e qual foi a mais recompensante?

Roselita Machado:  Foram muitos momentos difícil a falta de verba, lugares para os ensaios que muitas e muitas vezes tivemos que pedir emprestado ou alugar espaços para os ensaios, muitos integrantes querendo desistir por falta de verba ou por cansaço ou por extres foi muito difícil e fizemos muitos pedágios.

A recompensa veio quando fomos agraciados com o 6° melhor grupo do Estado na força B nos dois anos consecutivos 2017/2018 valeu muito as lágrimas derramadas enumeras vezes para manter o grupo no CTG.


Assista o vídeo da apresentação 











Entrevista de:

Antonia Valim – Prenda Mirim Farroupilha de Alvorada



28º Aniversário Ctg Bento Gonçalves da Silva

 



Na noite de Sábado (21) foi comemorado o 28º aniversário do Ctg Bento Gonçalves da Silva com uma deliciosa janta. Cuidando sempre o plano de contingencia, amigos , patronagem e Subcoordenadoria de Alvorada se reuniram para celebrar a data.

A noite contou com apresentação como, declamação e claro o Parabéns Crioulo!!

Parabéns Ctg Bento Gonçalves vida longa !!!!



















Poesia – Miragem na curva do olhar

 


Autor: Ari  Pinheiro

Hoje eu acordei poeta...

E a estrada real me parece

Muito menos com a partida.

Aliás, a velha trilha dos retirantes

Está vestida de poeira nova

E sol vespertino

Desenha figuras no horizonte...

 

Figuras de mil tauras que voltam

Pra beber na paisagem

A seiva ancestral

Que dormita tranqüila

Na paz destes campos!

 

Perfilados nos arames

Formam alas os pelinchos,

Numa continência muda

A tantos bravos que passam!

 

Lá vêm eles...

Estão mais perto agora...

E os capacetes de obra

Começam virar chapelões de abas largas

Que adornam com graça

Os semblantes sofridos...

 

De repente,

Os aventais de oficina

Viram ponchos alados

Na manhã destes pagos,

E ondulando pacholas

Acenam faceiros

À inquietos cardeais

Que espionam das moitas!

 

Ah! E os fletes...

Até antes da curva

Apenas calhambeques de frete

Mas agora... Que flor de fletes!

De crinas ao vento, parecem centauros

Encurtando distâncias

Pra o lado de cá!

 

E além...

Despontando na retaguarda,

Seriam carretas?

Sim! São carretas!

São as velhas carretas lerdas,

Lerdas e cantadeiras

Recheadas de provisões...!

 

 

Eis o meu povo de volta

Chegando de manso na curva do olhar!

Não mais parecem farrapos

São tauras garbosos tomando de volta

O que sempre foi seu!

Galopam seus potros pelas pradarias

Buscando nos sonhos

Razões pra ficar...

E as sangas faceiras

Abraçam com graça

Os corpos suados

Que vem descansar!

 

Pra quem volta aos pagos

Pouco importa caminhos ou atalhos...

A alma sempre chega pilchada

E de à cavalo!

 

Que bom que hoje acordei poeta!

Amanhã... Amanhã, de repente,

Nem mais acorde assim...

Mas hoje... Hoje eu estou poeta!

E posso receber de alma aberta

Mil tauras que voltam

Pra beber na paisagem

A seiva ancestral que dormita tranqüila

na paz destes campos!


Poesia - Herança de Guerra

 


Autor: Cândido Brasil

 

Verde, vermelho e amarelo

são matizes do pendão do Rio Grande - nosso chão,

atávico, heróico e belo,

o mais telúrico elo

que liga ao coração;

o centro guarda o brasão

onde há duas colunas jónicas,

o apoio e a moral maçónicas

na vida de cada irmão.

 

 Da união dos dois pilares

que ornamentam o brasão

resulta a sustentação

dos seus eixos basilares,

fortalecendo os pares

na lei da ordem e razão

com a identificação

da trindade de valia:

força, beleza e sabedoria

do Templo de Salomão.

 

Estrela de ponta isolada

ao alto - reto e direito,

tal qual o homem perfeito

e sua postura adotada,

na direção indicada

busca influência celeste,

simbolizando inconteste

toda espiritualidade,

a virtude e qualidade

que ao ser humano reveste.

 

Acácia postada em louros

cingindo um sabre dourado,

expressa o dever sagrado

de preservar um tesouro,

no perene vivedouro

dos consagrados rituais

com os valores morais

ao longo desta jornada,

onde o barrete e a espada

não irão morrer jamais.

 

Num losango repartido

a visão traz outros ângulos

e se vê quatro triângulos,

símbolo de vários sentidos,

tendo em seu núcleo reunidos

o território local

e as estrelas do ideal

na virtude da irmandade:

fé, esperança e caridade,

com apoio universal.

 

Na base da identidade

que forma o brioso emblema

grifado o glorioso lema:

liberdade, igualdade,

humanidade, à sociedade,

que é a quem lhe pertence,

o povo que luta e vence,

conforme o postulado

que se eterniza plasmado

na heráldica rio-grandense.

 

Esta herança de guerra

que tremula altaneira,

glorifica a gesta campeira

nas tradições que encerra,

são modelo a toda a terra

as façanhas da capitania

e a história se alumia

de glória e magnitude,

pela luz da atitude

dos irmãos da Maçonaria.

 

Os ideais farroupilhas

do velho lábaro sagrado

vivem identificados

pelos laços das famílias,

com o verde das coxilhas,

o vermelho da coragem,

o amarelo da imagem

do solo que nos alimenta

e a história que apresenta

os maçons e sua mensagem.

 

Um legado de valores

cultivados e repassados

vividos e respeitados

por todos os seus primores,

estampados em três cores

e no cumprimento feito

com um crioulo respeito

à luz da real fortuna,

três abraços entre colunas,

pr'um mundo justo e perfeito.

 


Poesia - Saudade da Querência

 


Autor:   Adão Carrazzoni de Jesus

 

Tamanho da fonte

Sou um gaúcho perdido

no turbilhão da cidade

e vivo, assim, entristecido,

carregando esta saudade.

Esta dor comigo eu trago

bem dentro do coração:

– Saudade lá do meu pago,

da querência, do rincão…

 

da chinoca endiabrada,

do cavalo alazão,

do pouso à beira da estrada,

do amargo chimarrão…

 

Do meu velho chiripá,

das botas e do facão,

do clarão do boitatá,

do quero-quero gritão…

 

De tudo saudades tenho,

de tudo o que é do Rio Grande

e nesta tristeza me embrenho,

            minha alma não se expande!..          

 

 


Danças Tradicionais Gaúchas.

 



As danças gaúchas possuem origens diversas, principalmente de países do continente Europeu devido á colonização no século XIX.

As danças gaúchas originaram-se das antigas danças brasileiras e danças trazidas pelos imigrantes que aqui chegavam. Estas danças possuíam algumas características dos ciclos coreográficos e aqui se “ agaucharam”, salientando as duas principais características da alma do gaúcho, que são a teatralidade e o respeito a mulher.

Com traços camponeses, as danças tem como características principais o sapateado forte e movimentos velozes com bastante agilidade. São danças desafiadoras e contagiantes, sempre valorizando o respeito e a diversidade.

A mais típica representação do Rio Grande do Sul é o “fandango”, que posteriormente, se entremeou ao sapateado, originado nas antigas danças de par solto da Espanha.

Em 1949, Paixão Cortes e Barbosa Lessa, foram convidados para participar em Montevidéo , do   “ Dia de la Tradición Uruguaya”, e foram surpreendidos, com a riqueza de detalhes que as danças tradicionais dos Platinos. Retornaram ao Brasil, com o sentimento de tristeza por fazerem parte de um povo que esqueceu suas tradições, e foi então que iniciaram um processo de pesquisas, para a produção do primeiro manual, lançado em 1953, após três anos de pesquisas.

 O movimento tradicionalista gaúcho do Rio Grande do Sul, descreveu no livro "Manual de Danças Tradicionais", vinte e cinco danças tradicionais. Todas elas foram pesquisadas, descritas, passo a passo e recriadas.

Elas são classificadas em quatro ciclos:  Minueto, Fandango, Contradança e Dança de pares enlaçados.

Minueto, impõe alguns limites quanto ao excesso de pacholismo e liberdade de movimentos, dançado de forma comedida, com extremo respeito.

Fandango, se destaca os meneios femininos e o jeito galanteador do peão, com agilidade e exibicionismo e graciosidade.

Contradança, uma dança extremamente animada, descrita em três palavras; vivo, alegre e descontraído.

Dança de pares enlaçados, executada com movimentos alegres e envolventes, descontraidos, com vivacidade. Vamos falar de cada dança suas principais características e seus respectivos ciclo coreográfico.

Anú: Dança de sapateios vivos e alegres e sarandeios com passos comedidos, suavidade, giros lento e reverência, dança repetida mediante o comando do posteiro.

Ciclo: Minueto e Fandango.

Balaio: De origem nordestina, conta com sapateios, alegria, galanteio e sarandeios com agilidade e graciosidade, dança de roda.

Ciclo: Contradança e Fandango.

Cana-verde: É de origem Portuguesa, movimentos graciosos, vivos, alegres e descontraídos, prendas e peões.

Ciclo: Contradança.

Caranguejo: Movimentos graciosos, vivos, alegres e descontraídos, peões e prendas, dança de roda.

Ciclo: Contradança.

Chico Sapateado: Tem como característica a vivacidade, graciosidade e galanteio nos sapateados e giros, no enlaçado alegre e envolvente, vivacidade.

Ciclo: Fandango e Pares enlaçados.

Chimarrita: De origem açoriana, caracterizada como uma dança romântica, movimentos vivos, alegres e descontraídos, peões e prendas

Ciclo: Contradança.

Chimarrita Balão: Graciosidade, sedução e galanteios nos sapateados e sarandeios, no enlaçado alegre e envolvente, vivacidade.

Ciclo: Fandango e Pares enlaçados.

Chote carreirinho: Alegre e envolvente, vivacidade.

Ciclo: Pares enlaçados.

Chote de sete voltas: Dança alegre e envolvente com vivacidade nas sete voltas.

Ciclo: Pares enlaçados.

Chote de duas damas: Não há nenhuma música específica, características, alegre e envolvente, vivacidade. única dança em que o peão dança com duas prendas.                                                              

Ciclo: Pares enlaçados.

Chote de quadro passi: É de origem italiana, movimentos vivos, alegres e descontraídos

Ciclo: Pares enlaçados e Contradança.

Chote Inglês: Passos comedidos e refinados, giros lentos e reverências, suavidade e vivacidade.

Ciclo: Minueto e Pares enlaçados.

Havaneira marcada: originária de Havana ( Cuba), movimentos alegres e envolventes, vivacidade.

Ciclo: Pares enlaçados.

Maçanico: Movimentos vivos, alegres e descontraídos.

Ciclo: Contradança.

Meia canha: Movimentos vivos, alegres e descontraídos.

Ciclo: Contradança.

Pau de fitas: Movimentos vivos, alegres e descontraídos, Dança universal.

Ciclo: Contradança.

Pezinho: de origem açoriana, movimentos vivos, alegres e descontraídos, ingênuo e terno.

Ciclo: Contradança.

Queromana: Passeio através de mesuras, passos comedidos e refinados, dança cerimoniosa.

Ciclo: Minueto.

Rancheira de carreirinha: Alegria e envolvimento durante a execução da dança, vivacidade.

Ciclo: Pares enlaçados.

Rilo: Movimentos vivos, alegres e descontraídos.

Ciclo: Contradança.

Roseira: Apresenta características dos quatro ciclos. Passeio, passos comedidos e refinados. Sarandeios e sapateios, graciosidade, sedução e galanteios. Formação da roda, movimentos vivos, alegres e descontraídos. Valsado, alegre e envolvente. Vivacidade.


Ciclo: Minueto, Fandango, contradança, pares enlaçados.

Sarrabalho: Movimentos vivos alegres e descontraídos, graciosidade, sedução.

Ciclo: Fandango

Tatu castanholas: Galanteio, sedução, agilidade e exibicionismo; foi criada pelo 35 CTG, em 1954.

Ciclo: Fandango

Tatu de volta ao meio: Galanteio, sedução, agilidade, graciosidade, satisfação, alegre, envolvente.

Ciclo: Fandango.

Tirana do lenço: Galanteio, sedução, graciosidade e revestida de romantismo.

Ciclo: Fandango.

Em 16 de novembro de 2005, foi aprovada a LEI N° 12.372, que reconhece como integrantes do patrimônio cultural imaterial do estado, as danças tradicionais gaúchas e respectivas músicas e letras.

“ A interpretação da dança é da maior importância e validade, pois traduz as características de uma época, a expressão da vida de uma coletividade, o desenvolvimento sócio-cultural de uma comunidade”.  ( Paixão Cortes).






Pesquisa de :

Sandra Ferreira/ 1º chinoca CTG Sentinelas do Pago.     




Contos Gauchescos - Deve um Queijo!…

 



O velho Lessa era um homem assinzinho... nanico, retaco, ruivote, corado, e tinha os olhos

vivos como azougue... Mas quanto tinha pequeno o corpo, tinha grande o coração.

E sisudo; não era homem de roer corda, nem de palavra esticante, como couro de cachorro.

Falava pouco, mas quando dizia, estava dito; pra ele, trato de boca valia tanto — e até mais — que papel de tabelião. E no mais, era — pão, pão; queijo, queijo! —

E, por falar nisto:

Duma feita no Passo do Centurião, numa venda grande que ali havia, estava uma ponta de

andantes, tropeiros, gauchada teatina, peonada, e tal, quando descia um cerro alto e depois entrava na estrada, ladeada de butiazeiros, que se estendem para os dois lados, sombreando o verde macio dos pastos, quando troteava de escoteiro, o velho Lessa.

De ainda longe já um dos sujeitos o havia conhecido e dito quem era e donde; e logo outro

— passou voz que aí no mais todos iriam comer um queijo sem nada pagar...

Este fulano era um castelhano alto, gadelhudo, com uma pêra enorme, que ele às vezes, por graça ou tenção reservada, costumava trançar, como para dar mote a algum dito, e ele retrucar, e, daí, nascer uma cruzada de facões, para divertir, ao primeiro coloreado…

Sossegado da sua vida o velho Lessa aproximou-se, parou o cavalo e mui delicadamente tocou na aba do sombreiro;

— Boa-tarde, a todos!

E apeou-se.

Maneou o mancarrão, atou-lhe as rédeas ao pescoço e dobrou os pelegos, por causa da quentura do sol.

Quando ia a entrar na venda, saiu-lhe o castelhano, pelo lado de laçar... A este tempo o

negociante saudava o velho, dizendo:

— Oh! seu Nico! Seja bem aparecido! Então, vem de Canguçu, ou vai?...

Antes que o cumprimentado falasse, o castelhano intrometeu-se:

— Ah! es usted de Canguçu?... Entonces... debe un queso!...

O paisano abriu um ligeiro claro de riso e com toda a pachorra ainda respondeu:

— Ora, amigo... os queijos andam vasqueiros...

— Si, pa nosotros... pero Canguçu pagará queso, hoy!....

O vendeiro farejou catinga agourenta, no ar, e quis ladear o importuno; o velho Lessa coçou

barbinha do queixo, coçou o cocuruto, relanceou os olhinhos pelos assistentes, e mui de manso pediu ao empregado do balcão:

— ‘Stá bem!... Chê! dê-me aquele queijo!...

E apontou para um rodado dum palmo e meio de corda, que estava na prateleira, ali à mão.

O gadelhudo refastelou-se sobre um surrão de erva, chupou os dentes e ainda enticou:

— Oigalê!... bailemos, que queso hay!...

Com a mesma santa paciência o velho encomendou então o seu almoço — ovos, um pedaço de lingüiça, café — e depois pegou a partir o queijo, primeiro ao meio, em duas metades e depois uma destas em fatias, como umas oito ou dez; acabando, ofereceu a todos:

— São servidos?

Ninguém topou: agradeceram; então disse ele ao cobrador:

— Che!... pronto! Sirva-se!...

O castelhano levantou-se, endireitou as armas e chegando-se para o prato repetiu o invite:

— Entonces?... está pago, paisanos!...

— E às talhaditas começou a comer.

O velho Lessa — ele tinha pinta de tambeiro, mas era touro cupinudo... pegou a picar um naco;

sovou uma palha; enrolou o baio; bateu os avios, acendeu e começou a pitar, sempre calado, e

moneando, gastando um tempão...

Lá na outra ponta do balcão um freguês estava reclamando sobre uma panela reiúna, que lhe

haviam vendido com o beiço quebrado...

Aí pelas seis talhadas o clinudo parou de mastigar.

Bueno. . buenazo!... pero no puedo más!...

Mas o velho, com o facão espetou uma fatia e of’receu-lhe:

— Esta, por mim!

— Si, justo: por usted, vaya!…

E às cansadas remoeu o pedaço.

E mal que engoliu o último bocado, já o velho apresentava-lhe outra fatia, na ponta do ferro:

— Outra, a saúde de Canguçu!...

— Pero...

— Não tem pêro nem pêra... Come...

— Pê…

— Come, clinudol...

E, no mesmo soflagrante, de plancha, duro e chato, o velho Lessa derrubou-lhe o facão entre as orelhas, pelas costelas, pelas paletas, pela barriga, pelas ventas… seguido, e miúdo, como quem empapa d’água um couro lanudo. E com esta sumanta levou-o sobre o mesmo surrão de erva, pôs-lhe nos joelhos o prato com o resto do queijo e gritou-lhe nos ouvidos: — Come!...

E o roncador comeu... comeu até os farelos...; mas, de repente, empanzinado, de boca aberta,

olhos arregalados, meio sufocado, todo se vomitando, pulou porta fora, se foi a um matungo e

disparou para a barranca do passo… e foi-se, a la cria!...

O reclamador da panela desbeiçada deu uma risada e chacoteou, pra o rastro:

— ‘Orre, maula!... quebraram-te o corincho!...

E o velhito, com toda a sua pachorra indagou pelo almoço, se já estava pronto?...

— Os ovos..., a lingüiça..., o café?…


Livro: Contos Gauchescos 

João Simões Lopes Neto

 

 

Pesquisa de :

Fabiana Thomaz

 

 


56 anos do Município de Alvorada

Minha Alvorada cidade e sorriso És  um paraíso pra quem mora aqui Só quem não conhece a minha terra amada Tem a língua afiada pra fala...