quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Poesia – Miragem na curva do olhar

 


Autor: Ari  Pinheiro

Hoje eu acordei poeta...

E a estrada real me parece

Muito menos com a partida.

Aliás, a velha trilha dos retirantes

Está vestida de poeira nova

E sol vespertino

Desenha figuras no horizonte...

 

Figuras de mil tauras que voltam

Pra beber na paisagem

A seiva ancestral

Que dormita tranqüila

Na paz destes campos!

 

Perfilados nos arames

Formam alas os pelinchos,

Numa continência muda

A tantos bravos que passam!

 

Lá vêm eles...

Estão mais perto agora...

E os capacetes de obra

Começam virar chapelões de abas largas

Que adornam com graça

Os semblantes sofridos...

 

De repente,

Os aventais de oficina

Viram ponchos alados

Na manhã destes pagos,

E ondulando pacholas

Acenam faceiros

À inquietos cardeais

Que espionam das moitas!

 

Ah! E os fletes...

Até antes da curva

Apenas calhambeques de frete

Mas agora... Que flor de fletes!

De crinas ao vento, parecem centauros

Encurtando distâncias

Pra o lado de cá!

 

E além...

Despontando na retaguarda,

Seriam carretas?

Sim! São carretas!

São as velhas carretas lerdas,

Lerdas e cantadeiras

Recheadas de provisões...!

 

 

Eis o meu povo de volta

Chegando de manso na curva do olhar!

Não mais parecem farrapos

São tauras garbosos tomando de volta

O que sempre foi seu!

Galopam seus potros pelas pradarias

Buscando nos sonhos

Razões pra ficar...

E as sangas faceiras

Abraçam com graça

Os corpos suados

Que vem descansar!

 

Pra quem volta aos pagos

Pouco importa caminhos ou atalhos...

A alma sempre chega pilchada

E de à cavalo!

 

Que bom que hoje acordei poeta!

Amanhã... Amanhã, de repente,

Nem mais acorde assim...

Mas hoje... Hoje eu estou poeta!

E posso receber de alma aberta

Mil tauras que voltam

Pra beber na paisagem

A seiva ancestral que dormita tranqüila

na paz destes campos!


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