quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Poesia / Um Canto Para Matear Solito


(Moises Silveira de Menezes)


Quando o sol vai despacito

me quedo mateando quieto

no velho ritual campeiro

que faz ausentes de afeto

buscar refúgio no amargo,

vida verde, vida em pó

rico ancestral lenitivo

parceiro dos que andam só.

 

A lua vem debruçar-se

no portal da solidão

em tênues raios de prata

clareando o velho galpão,

fresteando as paredes velhas

chegam as vozes da noite

que a meus ouvidos cansados

trazem sibilos de açoite.

 

A cuia passeia inquieta

como se ave noturna

que risca olhos punhais

na ampla noite soturna,

só o chispar das labaredas

aos grilos em contracanto

compõe mais uma milonga

pra um mundo de desencantos.

 

O mate desce queimando

na gargante ressequida

parece que nessa noite

nem Caá-Yari dá guarida

a quem cansou do caminho

e de partir sem chegar

fez da vida uma tapera

na velha sina de andar.

 

Uma saudade importuna

amarga mais esse mate

descompassa tanto o peito

que o coração pouco bate,

 aquerenciou-se essa louca

sem ter convite pra vir

que até nem sei se é bom ter

saudade ou não pra sentir.

 

Uma inquietude interior

que faz a noite silente,

o sonho muito distante

como se estrela cadente,

me gusta um mate solito

nesse esperar não sei que;

saber de andar o sentido

talvez, da vida o porquê.



Milena Gomes 

Prenda Juvenil Farroupilha de Alvorada


 

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