O povo migrou, mas sem que ninguém
soubesse um velho indio que dormira tapado por couros ao acordar se viu só, sem
seus descendentes para cuida-lo.
É obrigado a
levantar-se e agarrando-se as árvores se põem a caminhar, nisto surge uma bela
e jovem índia que se coloca atrás dele.
Ela chamava-se Yari e era sua filha
mais nova, que não teve coragem de abandonar seu velho pai, que sozinho iria
morrer.
Aproximou-se e disse-lhe:
- Venho de muito longe e há dias ando
sem parar. Estou cansado e queria repousas um pouco. Poderia arranjar-me uma
rede e algo para comer?
- Sim, respondeu o velho índio, mesmo
sabendo que sua comida era muito escassa.
Quando chegaram à sua cabana, ele
apresentou ao visitante a sua filha.
Yari acendeu o fogo e preparou algo para o
moço comer. O estranho comeu com muito apetite. O velho e a filha emprestaram a
cabana e foram dormir em uma das outras abandonadas.
- Vocês merecem muito mais! explicou
o homem me darem o que não tinham e foram de grande bondade. Tupã está
preocupado com a saúde de vocês e por isto me enviou. E em gratidão a tanta
bondade lhe concedo um pedido.
O pobre velho queria um amigo que lhe
fizesse companhia até o findar de seus dias, para que pudesse deixar de ser um
fardo para sua doce e jovem filha. O estranho levou-lhe então até uma erva mais
estranha ainda dizendo:
- Esta é a erva-mate. Plante-a e
deixa que ela cresça e faça-a multiplicar-se. Deve arrancar-lhe as folhas,
fervê-las e tomar como chá. Suas forças se renovarão e poderá voltar a caçar e
fazer o que quiser. Sua filha poderá então retornar a sua tribo. Yari resolveu
que de qualquer jeito jamais ficaria para fazer companhia ao pai. Pela sua
dedicação e zelo, o enviado do tupã sorriu emocionado e disse:
- Por ser tão boa filha, a partir
deste momento passará a ser conhecida como Caá-Yari, a deusa protetora dos
ervais. Cuidará para que o mate jamais deixe de existir e fará com que os
outros o conheçam e bebam a fim de serem fortes e felizes.
Logo depois o estranho partiu, mas
deixou na cabeça de Yari uma grande dúvida: como poderia ela, vivendo afastada
das demais tribos divulgar o uso da tal erva? E o tempo foi passando...
Em uma tribo não muito distante dali,
os índios estavam contentes com a fartura das caçadas. Organizaram uma grande festa para comemorar,
não faltava comida e muita bebida. Mas a bebida demais levou dois jovens índios
a começaram a discutir e brigar. Tratava-se de Piraúna e Jaguaretê.
No furor da briga Jaguaretê empunha
um tacape e bate na cabeça de Piraúna, matando-o. Jaguaretê foi então detido e
amarrado ao poste das torturas. Pelas leis da tribo, os parentes do morto
deveriam executar o assassino. Trouxeram imediatamente o pai de Piraúna para
que ordenasse a execução. Muito consciente que a tragédia só aconteceu por
estarem os jovens sob o efeito da bebida, liberou o Jaguaretê, que foi então
expulso da tribo e foi buscar sua sorte na floresta e quem sabe nos braços de
Anhangá, espírito mau da mata. Conforme caminhava e o efeito do álcool era
amenizado, mais se arrependia do mal que fizera.
Passadas muitas décadas, alguns
índios daquela tribo, aventuravam-se na mata fechada em busca caça que já
estava rara no local em que viviam. Entrando no sertão, no meio da floresta,
encontraram uma cabana e foram aproximando-se com cuidado, mas mesmo assim
foram pressentidos e saiu da cabana um homem muito forte e sorridente. Muito embora
seus cabelos fossem totalmente brancos, sua fisionomia era de um jovem e
ofereceu-lhes uma bebida desconhecida. Identificou-se então como sendo
Jaguaretê, o índio expulso de sua tribo e que a bebida desconhecida era o mate.
Contou que quando foi abandonado a
sua sorte, muito andou e quando estava apertado de cansaço e remorso, jogou-se
ao chão e pediu para morrer. Acordou-se com a visão de uma índia de rara beleza
que apiedando-se dele disse-lhe:
- Meu nome é Caá-Yari e sou a deusa dos
ervais. Tenho pena de você, pois não matou por gosto e agora arrepende-se
amargamente pelo que fez. Para suportar seu exílio, eis aqui uma bebida que o
deixará forte e lhe esclarecerá as idéias.
Levou-o até uma estranha planta e
voltou a dizer:
- Esta é a erva-mate. Cultive-a e a
faça multiplicar. Depois prepare uma infusão com suas folhas e beba o chá. Seu
corpo permanecerá forte e sua mente clara por muitos anos. Não deixe de
transmitir a quem encontrar o que aprendeu com o mate.
- Por tanto, jovens guerreiros, quero
que leve alguns pés da erva-mate para a sua tribo e que nunca deixem de
transmitir aos outros o que aprenderam.
Aqueles índios voltaram e contaram
aos outros os que haviam ouvido. O mate foi plantado e multiplicou-se. Outras
tribos apreenderam e foi desta forma que seu uso chegou até nós.
Fonte: Portal das Missões
Pesquisa de: Fabiana
Thomaz
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