quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

POESIA - Nos Olhos de Quem foi Estrada


 Autor: Claúdio Silveira / Cristiano Ferreira Pereira

...A meia luz da candeia,

Se projeta amarelada,

Numa nesga de aprisco, nos ‘bretes de um arrabalde’...

Que se confunde ao brilho perdido

Do olhar saudoso e dolorido

De quem um dia foi estrada...

 

 

...Passam luzes e mais luzes

Dos pirilampos povoeiros,

Enquanto transpassa um amargo

Numa garganta calada,

Olvidada dos aboios e caminhos;

Em andarilhas lembranças

Conserva o gosto doce das liberdades de antanho

E o salgado cristalino que deslizava na fronte;

Quando debaixo de um sombreiro bem tombeado

Riscou horizontes e lonjuras,

 

Estrivado na mais terrunha das consciências

Onde a honra e a reverência

Habitavam como leis...

Os olhos naqueles tempos,

Refletiam correrias,

Potreadas e tropas largas,

Andanças pelo sem-fim e banhadais...

As potreras ostentavam

O aço pontiagudo e cortador das chilenas cantadeiras,

Roseteando a crina dos ‘PAJONAIS’...

Nas pernas - quase cambotas - um entono de milícia,

A campechana perícia

E a força brutal no garrão...

Sobre as ancas do pingaço... um poncho,

Nos tentos laço ou sovéu,

A vista bombeando até onde o campo encontra o céu,

E as rédeas... firmes na mão...

 

 

Os olhos viram tormentas se perfilarem no espaço

E tremular o mormaço na vastidão da distância...

Trazia geadas, cimbronaços e rodadas...

Polvadeiras e rigores sobre o couro.

Despertou as madrugadas e encordoou dias e noites

Percorrendo léguas de distâncias

Que apartavam os rincões...

Qual um monge peregrino

- Na catedral das sesmarias -

Resenhou o próprio destino

Por sobre o altar dos fletes;

Á andar – andar e pregar..

...Pelas cantigas de ronda.

Talvez quisesse campear um parador derradeiro...

Ou quem sabe, antevendo

O dia de uma inversão de valores e ideais...

Quando iria definhar solitário

Qual um pássaro ferido

Castrado do próprio vôo

Na solidão de um cativeiro...

 

 

...Como tantos, vitimado

Pela ‘benção do futuro’

Ungida de um “tempo novo”,

Que se olvida dos mais velhos,

Das raízes, da História

E do princípio de tudo.

 

 

A cavalhada de muda

Ficou aquém do horizonte.

O cincerro da madrinha,

Parou badalo pelas léguas do caminho,

Pois os ventos do progresso

Varreram os rastros das tropas e tropilhas,

E os Salmos das flexilhas...

Silenciaram junto ao eco dos aboios

...Por não ter a quem pregar.

 

Restaram os olhos saudosos,

Vertentes de um caudal de dor,

Que jorra silente nas preces das alvoradas...

Avistando as barras de mais um dia

Melancólico e... vazio.

 

 

Agora sorve solito,

O mesmo amargo de antanho,

Dos pousos e das paragens,

Em meio a outras paisagens

De matizes fumacentos...

Quem tanto cortou planuras,

Hoje luta com as lonjuras

Que se alargam peito adentro...

 

 

Distante...

De forças, desvanecido,

Aspira o ar poluído

Da confluência das ruas...

Tropeando lembranças,

Entre saudade e perigo,

Busca seu tempo perdido...

...Em eras que não são suas.

 

 

...Passam luzes e mais luzes...

... Olhares que o fitam,

Mas não o vêem...

...Por desgastada a imagem

E ausência dos que crêem.

 

 

Sim!... Atentem!...

Quem busca rumo e sentido

Campeando um rumo perdido

Que no tempo se extraviou;

Deve encontrar aparências

Nas descrições de QUERÊNCIA

De alguma linha rimada...

Ou achar mais que sentido

Quando se ver refletido

Nos olhos de quem foi estrada!...


Pesquisa de: 

Antonia Valim - Prenda Miri Farroupilha 


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