...A meia luz da
candeia,
Se projeta amarelada,
Numa nesga de
aprisco, nos ‘bretes de um arrabalde’...
Que se confunde ao
brilho perdido
Do olhar saudoso e
dolorido
De quem um dia foi
estrada...
...Passam luzes e
mais luzes
Dos pirilampos
povoeiros,
Enquanto transpassa
um amargo
Numa garganta calada,
Olvidada dos aboios e
caminhos;
Em andarilhas
lembranças
Conserva o gosto doce
das liberdades de antanho
E o salgado
cristalino que deslizava na fronte;
Quando debaixo de um
sombreiro bem tombeado
Riscou horizontes e
lonjuras,
Estrivado na mais
terrunha das consciências
Onde a honra e a
reverência
Habitavam como
leis...
Os olhos naqueles
tempos,
Refletiam correrias,
Potreadas e tropas
largas,
Andanças pelo sem-fim
e banhadais...
As potreras
ostentavam
O aço pontiagudo e
cortador das chilenas cantadeiras,
Roseteando a crina
dos ‘PAJONAIS’...
Nas pernas - quase
cambotas - um entono de milícia,
A campechana perícia
E a força brutal no
garrão...
Sobre as ancas do
pingaço... um poncho,
Nos tentos laço ou
sovéu,
A vista bombeando até
onde o campo encontra o céu,
E as rédeas... firmes
na mão...
Os olhos viram
tormentas se perfilarem no espaço
E tremular o mormaço
na vastidão da distância...
Trazia
geadas, cimbronaços e rodadas...
Polvadeiras e rigores
sobre o couro.
Despertou as
madrugadas e encordoou dias e noites
Percorrendo léguas de
distâncias
Que apartavam os
rincões...
Qual um monge
peregrino
- Na catedral das
sesmarias -
Resenhou o próprio
destino
Por sobre o altar dos
fletes;
Á andar – andar e
pregar..
...Pelas cantigas de
ronda.
Talvez quisesse
campear um parador derradeiro...
Ou quem sabe,
antevendo
O dia de uma inversão
de valores e ideais...
Quando iria definhar
solitário
Qual um pássaro
ferido
Castrado do próprio
vôo
Na solidão de um
cativeiro...
...Como tantos,
vitimado
Pela ‘benção do
futuro’
Ungida de um “tempo
novo”,
Que se olvida dos
mais velhos,
Das raízes, da
História
E do princípio de
tudo.
A cavalhada de muda
Ficou aquém do
horizonte.
O cincerro da
madrinha,
Parou badalo pelas
léguas do caminho,
Pois os ventos do
progresso
Varreram os rastros
das tropas e tropilhas,
E os Salmos das
flexilhas...
Silenciaram junto ao
eco dos aboios
...Por não ter a quem
pregar.
Restaram os olhos
saudosos,
Vertentes de um
caudal de dor,
Que jorra silente nas
preces das alvoradas...
Avistando as barras
de mais um dia
Melancólico e...
vazio.
Agora sorve solito,
O mesmo amargo de
antanho,
Dos pousos e das
paragens,
Em meio a outras
paisagens
De matizes
fumacentos...
Quem tanto cortou
planuras,
Hoje luta com as
lonjuras
Que se alargam peito
adentro...
Distante...
De forças,
desvanecido,
Aspira o ar poluído
Da confluência das
ruas...
Tropeando lembranças,
Entre saudade e
perigo,
Busca seu tempo
perdido...
...Em eras que não
são suas.
...Passam luzes e
mais luzes...
... Olhares que o
fitam,
Mas não o vêem...
...Por desgastada a
imagem
E ausência dos que
crêem.
Sim!... Atentem!...
Quem busca rumo e
sentido
Campeando um rumo
perdido
Que no tempo se
extraviou;
Deve encontrar
aparências
Nas descrições de
QUERÊNCIA
De alguma linha
rimada...
Ou achar mais que
sentido
Quando se ver
refletido
Nos olhos de quem foi
estrada!...
Pesquisa de:
Antonia Valim - Prenda Miri Farroupilha
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