quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Poesia - O DUELO DE DON BLANCO


Autor: Danilo Kuhn

 

Rivais em um descampado,

arma em punho, bem chairada,

sede por honra lavada,

coração descompassado...

Vida e morte lado a lado,

repartindo o mesmo elo.

A sorte cinge, a martelo,

esculpe com seu cinzel,

une, sob o mesmo céu,

os dois lados de um duelo.

 

 

Por que o homem se envereda

nas trilhas do enfrentamento,

jogando o destino ao vento

enquanto a morte lhe enreda?

A vida é lenço de seda

a beijar o fio da adaga...

Mas, quando o silêncio indaga,

nasce o verso e a poesia,

morre a força e a valentia

aos pés de cada palavra.

Don Blanco, triste poeta,

desfolhava a vida a esmo,

enclausurado em si mesmo.

 

 

Nestas vielas incertas

mantinha sempre aberta

uma porta à amargura.

Escravo de suas agruras,

quase não se distinguia

a sombra que o envolvia

de sua própria figura.

 

 

Vagava entre as alcovas

fugindo de seus pecados,

como se fosse caçado por poemas,

por palavras que eram de sua lavra,

mas recusava a autoria.

Se houvesse alguma alforria

que lhe livrasse o açoite...

mas Don Blanco era só noite

sem esperança de dia.

 

 

Sopra o vento nas ruelas,

vaza o pranto do sereno...

Entre taças de veneno,

um poeta, à luz de velas,

se debate em quimeras.

Lá estava Don Blanco

e a última folha em branco

a empeçar um duelo

entre o vulgar e o belo,

entre o silêncio e o espanto.

 

 

Don Blanco ergueu sua pena

feito uma lança de guerra

demarcando sua terra,

mas o sublime poema

desviou-se do seu tema...

A beleza é uma moça,

não se conquista à força.

A pena sangrava em vão,

divagando em solidão,

delirando em sua glosa.

E a última folha em branco

sustentava o olhar do poeta.

Qual a passagem secreta?

Como desvendar seu manto?

0 duelo de Don Blanco...

Uma folha sobre a mesa...

A poesia é uma deusa

que só atende ao chamado

de quem reza calado

entre a luz e a mariposa.

 

 

 

Pesquisa de:

Antonia Valim – Prenda Mirim Farroupilha

 

 

 

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

56 anos do Município de Alvorada

Minha Alvorada cidade e sorriso És  um paraíso pra quem mora aqui Só quem não conhece a minha terra amada Tem a língua afiada pra fala...