quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A Batalha do Caiboaté.

 


              “Um massacre de proporções gigantescas com requintes de crueldade.”

 

Esse combate foi o mais importante da Guerra Guaranítica, que teve início em 1753, quando índios e caciques se revoltaram contra a mudança de governo de suas terras, localizadas na margem oriental do Rio Uruguai, os Sete Povos das Missões pertenciam à Espanha, mas com o Tratado de Madri (1750), passariam para domínio dos portugueses.

Os trinta mil índios deveriam abandoná-las, perdendo cidades, gado, lavoura e ervais, e mudar para o lado ocidental do Rio Uruguai e para o sul do Rio Ibicuí, domínio castelhano. Nos Sete Povos seriam instalados colonos açorianos.

A coligação das forças de Portugal e da Espanha se concretizou na cabeceira do Rio Negro no final de 1755. O exército espanhol tinha aproximadamente 1670 homens, já o exército Português era formado por 1600 militares e aproximadamente 250 negros escravos dos militares e comerciantes, com muita munição, cavalos e canhões.

Do outro lado, as tropas eram formadas por aventureiros mamelucos de tradição bandeirante e índios guaranis, minuanos, pampianos, nômades e cavaleiros, que haviam perdido parte do seu território para os guaranis e depois para o sistema jesuítico.



O primeiro embate ocorreu no território da atual cidade de São Miguel, no dia 7 de fevereiro  de 1756, foi morto Sepé Tiaraju, grande líder índio das Missões e corregedor de São Miguel, nascido em 1723, natural de São Luiz Gonzaga RS.



Sepé Tiaraju foi considerado santo popular e declarado “Herói guarani missioneiro rio-grandense”. “Essa terra tem dono.”

Três dias depois ocorreu o segundo embate, travado na localidade de Caiboaté Grande, interior do município de São Gabriel-RS, num improviso feito por Nicolau Neenguiru, que comandava os índios missioneiros, (após morte de Sepé Tiaraju).

A estratégia indígena era a formação de meia lua, trata-se de uma defesa e contra ataque, concentra-se o grosso dos índios na parte central, chamada de cavalaria pesada, enquanto outras duas pequenas partes se deslocam a grande velocidade para os lados, e ao decorrer da batalha fecha-se , inda de meia lua a um circulo fechado, usando flechas e lanças . O outro lado, usavam armaduras, tinham canhões e fogo pesado, deixando em desvantagem os índios, que mesmo antes que se fechasse o circulo  a parte central já havia perdido quase toda sua resistência, e os outros não conseguiam se aproximar suficiente  para uso das flechas e lanças, esse confronto pode ser chamado de verdadeiro massacre.



Pior que uma batalha, foi esse triste episódio em Caiboaté, um massacre humano, onde perderam a vida mais de 1500 nativos guaranis das Missões Jesuíticas. Nesta chacina os índios foram varados por lanças, espadas, muitos degolados, outros tantos vitimados pelos canhões, imperou-se uma enorme brutalidade que não considerou nem os pedidos de clemência dos índios. Somente uns 150 índios foram tomados como reféns, essa barbárie durou menos de duas horas, o chão tingiu-se de sangue, contam os relatos históricos.

Do lado vencedor as baixas foram pouquíssimas e menos de 50 feridos. Neste mesmo ano as tropas ocuparam os Sete Povos das Missões, sendo que em 17 de maio de 1756, a redução de São Miguel foi tomada.

Após a expulsão dos índios e dos Jesuítas o território missioneiro passou a ser administrado pela coroa Espanhola e incorporado à coroa Portuguesa. E assim consumou-se a destruição do projeto missioneiro onde além das perdas humanas e materiais, foi aniquilada grande parte da cultura e da arte e dos demais usos e costumes plantados pelos Jesuítas.

No local onde se travou a batalha, os padres Jesuítas cravaram uma cruz de toras de madeira, em homenagem as vidas perdidas, no decorrer do tempo foi construída uma cruz de alvenaria com cinco metros de altura, para substituir a de madeira, e nela tem um escrito em guarani. Tradução português:

“Em o ano de 1756 a 7 de fevereiro morreu o corregedor José Tiarayú em uma batalha que houve em um sábado, e a 10 de fevereiro em uma terça feira, houve uma batalha em que morreram neste lugar 1500 soldados e seus oficiais pertencentes a 9 povos do Uruguai. A 7 de março mandou D.Miguel Mayra fazer esta cruz pelos soldados.”


Foi construído um monumento em forma piramidal, feito de pedras, no alto da Coxilha do Caiboaté, interior de São Gabriel-RS, em homenagem as vidas perdidas nessa batalha. Na face frontal, uma grande placa de bronze tem a seguinte inscrição:

“Rolino Leonardo Vieira fez erigir em granito do município, este monumento simbólico, no local em que existiu outrora uma grande cruz mandada assentar pelos Jesuítas, comemorativa a Batalha do Caiboaté.”

 O Tratado de Madrid foi desfeito em 1761 pelo Convênio do Pardo, pois houve uma grande dificuldade para se fazer o translado das famílias indígenas pelos comissários que foram os demarcadores das novas fronteiras.

Em 1777, as duas coroas assinaram o tratado de Santo Ildefonso, no qual os Portugueses devolveram os Sete Povos das Missões para a Espanha. Porém os espanhóis abriram mão da região das missões, após o Tratado de Badajós, assinado em 1801. Esse Tratado entre Portugal e Espanha, incorporou definitivamente os Sete Povos das Missões para o Brasil.

Da nação indígena, mesmo aniquilada, os que sobraram contribuíram na mestiçagem para a formação do povo rio-grandense-do-sul dentre outras culturas deles que ainda existem em nosso meio.

Devemos um grande pedido de perdão aos povos indígenas por todos esses massacres, um reconhecimento que seja notório sobre a memória de Sepé Tiaraju, que combateu a opressão espanhola e portuguesa, que é herói missioneiro, guarani, do Rio Grande e Nacional. Devemos tê-lo como uma forte e marcante referência  na luta pela fé, pela liberdade e pela vida.

 

 

Pesquisa de

Sandra Ferreira - 1º chinoca do CTG Sentinelas do Pago.

 




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