“Um massacre de proporções
gigantescas com requintes de crueldade.”
Esse
combate foi o mais importante da Guerra Guaranítica, que teve início em 1753,
quando índios e caciques se revoltaram contra a mudança de governo de suas
terras, localizadas na margem oriental do Rio Uruguai, os Sete Povos das
Missões pertenciam à Espanha, mas com o Tratado de Madri (1750), passariam para
domínio dos portugueses.
Os
trinta mil índios deveriam abandoná-las, perdendo cidades, gado, lavoura e
ervais, e mudar para o lado ocidental do Rio Uruguai e para o sul do Rio
Ibicuí, domínio castelhano. Nos Sete Povos seriam instalados colonos açorianos.
A
coligação das forças de Portugal e da Espanha se concretizou na cabeceira do
Rio Negro no final de 1755. O exército espanhol tinha aproximadamente 1670
homens, já o exército Português era formado por 1600 militares e
aproximadamente 250 negros escravos dos militares e comerciantes, com muita
munição, cavalos e canhões.
Do
outro lado, as tropas eram formadas por aventureiros mamelucos de tradição
bandeirante e índios guaranis, minuanos, pampianos, nômades e cavaleiros, que
haviam perdido parte do seu território para os guaranis e depois para o sistema
jesuítico.
O
primeiro embate ocorreu no território da atual cidade de São Miguel, no dia 7
de fevereiro de 1756, foi morto Sepé
Tiaraju, grande líder índio das Missões e corregedor de São Miguel, nascido em
1723, natural de São Luiz Gonzaga RS.
Sepé
Tiaraju foi considerado santo popular e declarado “Herói guarani missioneiro
rio-grandense”. “Essa terra tem dono.”
Três
dias depois ocorreu o segundo embate, travado na localidade de Caiboaté Grande,
interior do município de São Gabriel-RS, num improviso feito por Nicolau
Neenguiru, que comandava os índios missioneiros, (após morte de Sepé Tiaraju).
A
estratégia indígena era a formação de meia lua, trata-se de uma defesa e contra
ataque, concentra-se o grosso dos índios na parte central, chamada de cavalaria
pesada, enquanto outras duas pequenas partes se deslocam a grande velocidade
para os lados, e ao decorrer da batalha fecha-se , inda de meia lua a um circulo
fechado, usando flechas e lanças . O outro lado, usavam armaduras, tinham
canhões e fogo pesado, deixando em desvantagem os índios, que mesmo antes que
se fechasse o circulo a parte central já
havia perdido quase toda sua resistência, e os outros não conseguiam se
aproximar suficiente para uso das
flechas e lanças, esse confronto pode ser chamado de verdadeiro massacre.
Pior
que uma batalha, foi esse triste episódio em Caiboaté, um massacre humano, onde
perderam a vida mais de 1500 nativos guaranis das Missões Jesuíticas. Nesta
chacina os índios foram varados por lanças, espadas, muitos degolados, outros
tantos vitimados pelos canhões, imperou-se uma enorme brutalidade que não
considerou nem os pedidos de clemência dos índios. Somente uns 150 índios foram
tomados como reféns, essa barbárie durou menos de duas horas, o chão tingiu-se
de sangue, contam os relatos históricos.
Do
lado vencedor as baixas foram pouquíssimas e menos de 50 feridos. Neste mesmo
ano as tropas ocuparam os Sete Povos das Missões, sendo que em 17 de maio de
1756, a redução de São Miguel foi tomada.
Após
a expulsão dos índios e dos Jesuítas o território missioneiro passou a ser
administrado pela coroa Espanhola e incorporado à coroa Portuguesa. E assim
consumou-se a destruição do projeto missioneiro onde além das perdas humanas e
materiais, foi aniquilada grande parte da cultura e da arte e dos demais usos e
costumes plantados pelos Jesuítas.
No
local onde se travou a batalha, os padres Jesuítas cravaram uma cruz de toras
de madeira, em homenagem as vidas perdidas, no decorrer do tempo foi construída
uma cruz de alvenaria com cinco metros de altura, para substituir a de madeira,
e nela tem um escrito em guarani. Tradução português:
“Em
o ano de 1756 a 7 de fevereiro morreu o corregedor José Tiarayú em uma batalha
que houve em um sábado, e a 10 de fevereiro em uma terça feira, houve uma
batalha em que morreram neste lugar 1500 soldados e seus oficiais pertencentes
a 9 povos do Uruguai. A 7 de março mandou D.Miguel Mayra fazer esta cruz pelos
soldados.”
Foi
construído um monumento em forma piramidal, feito de pedras, no alto da Coxilha
do Caiboaté, interior de São Gabriel-RS, em homenagem as vidas perdidas nessa
batalha. Na face frontal, uma grande placa de bronze tem a seguinte inscrição:
“Rolino
Leonardo Vieira fez erigir em granito do município, este monumento simbólico,
no local em que existiu outrora uma grande cruz mandada assentar pelos
Jesuítas, comemorativa a Batalha do Caiboaté.”
O Tratado de Madrid foi desfeito em 1761 pelo
Convênio do Pardo, pois houve uma grande dificuldade para se fazer o translado
das famílias indígenas pelos comissários que foram os demarcadores das novas
fronteiras.
Em
1777, as duas coroas assinaram o tratado de Santo Ildefonso, no qual os
Portugueses devolveram os Sete Povos das Missões para a Espanha. Porém os
espanhóis abriram mão da região das missões, após o Tratado de Badajós,
assinado em 1801. Esse Tratado entre Portugal e Espanha, incorporou
definitivamente os Sete Povos das Missões para o Brasil.
Da nação
indígena, mesmo aniquilada, os que sobraram contribuíram na mestiçagem para a
formação do povo rio-grandense-do-sul dentre outras culturas deles que ainda
existem em nosso meio.
Devemos
um grande pedido de perdão aos povos indígenas por todos esses massacres, um
reconhecimento que seja notório sobre a memória de Sepé Tiaraju, que combateu a
opressão espanhola e portuguesa, que é herói missioneiro, guarani, do Rio
Grande e Nacional. Devemos tê-lo como uma forte e marcante referência na luta pela fé, pela liberdade e pela vida.
Pesquisa de
Sandra Ferreira - 1º chinoca do CTG Sentinelas do Pago.
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