Diz a lenda que lá no
começo do mundo, quando a sagrada família, fugia para o Egito, perseguida pelos
soldados do Rei Heródes, muitas vezes precisou viajar a noite e esconder-se nos
matos e campos e durante o dia afugentar-se em grutas das montanhas para fugir
do sol escaldante e para não ser vista e morta pelos soldados. E quando os
perseguidores chegavam perto, precisava estar escondida, em muito silêncio,
para não ser encontrada.
Numa dessas vezes,
Nossa Senhora escondendo o menino Jesus, pediu aos pássaros e todos os animais
fizessem silêncio para que os soldados não os encontrassem. Porque os soldados
poderiam ouvir e vir ataca-los.
Prontamente todos os
bichos acataram o pedido de Nossa Senhora. Até o burrico parecia entender o
perigo que a família estava correndo, não empacava e pisava macio, não fazia o
menor ruido ao mudar os passos, parecia que ele sabia de sua grande missão, que
era conduzir a sua divina carga ao salvamento. As aves não voavam, ficavam
inertes e nem batiam asas.
Mas o quero-quero,
alheio aos acontecimentos e por ser uma ave alarmista, sempre alerta, querendo
avisar cantando quando alguém se aproximava, não parava de gritar com som
agudo. Não atendeu ao pedido de Nossa Senhora e permaneceu cantando, quero,
quero, quero...
Por isso foi
amaldiçoado por Nossa Senhora e até hoje continua querendo e querendo... sem
nada encontrar.
Quero-quero retirante.
Era uma vez um
pássaro que vivia na floresta e não andava nada satisfeito com sua vida. Ele
não sabia por que, mas todas as coisas que ele queria não davam certo. Ele era
muito agitado e só sabia dizer “quero” para tudo e para todos. Sempre cantava
muito alto e no seu canto somente se entendia a palavra “quero”. Quando
entravam os outros pássaros, ele não sabia de que se tratava o assunto e ia
logo gritando “quero”. Um dia ele achou que ninguém era amigo dele, e que todos
queriam o seu mal. Ficou muito triste e saiu a andar pela floresta chorando
muito. Mesmo chorando sozinho pela floresta gritava bem alto seu canto “quero”.
Do alto de uma árvore estava o professor Coruja que, vendo aquele pássaro
gritando tão alto e chorando muito, não se aguentou e desceu até o chão.
– O que acontece com
você, pobre pássaro? Você quer ajuda? Perguntou o professor Coruja.
– Quero. Respondeu o
pássaro chorão.
– Por que você grita
tão alto? Você quer um amigo para conversar? Quer?
– Quero.
Você quer parar de chorar e ficar alegre?
– Quero.
– Você quer sentar um
pouco aqui perto da minha casa para conversarmos? Perguntava o professor
Coruja, curioso pelas respostas do pássaro.
– Quero. Mais uma vez
respondeu o pássaro.
O professor Coruja
então parou e pensou: “Nossa, esse pássaro só sabe falar uma palavra e para
tudo diz quero. Será que ele não sabe dizer outra coisa? Vou perguntar a ele o
que realmente quer quem sabe com isso ele pare de cantar”.
– Pássaro, o que você
quer?
– Quero. Respondeu o
pássaro.
Então o professor
Coruja novamente se surpreendeu com a resposta e disse ao pássaro:
– Meu bom pássaro,
você não pode simplesmente querer as coisas. Para querer e obter algo na vida é
preciso mais. Sempre precisamos ter duas vezes o querer. Você já pensou nisso?
Assim o pássaro que
até então só gritava, olhou para o professor Coruja, parou de chorar e pela
primeira vez se dispôs a escutar alguém.
– Quero entender
isso, professor Coruja, disse o pássaro com brilho nos seus olhinhos.
– É muito simples –
disse o professor Coruja. Para vivermos bem e felizes, precisamos querer duas
vezes. Querer as coisas boas para nós, mas também querer as coisas boas para os
outros que convivem conosco. Todos nós queremos respeito e, para sermos
respeitados, precisamos respeitar os outros, ou seja, todos nós queremos ser
amados, mas, para sermos amados, precisamos amar os nossos semelhantes. Com ar
mais feliz o pássaro começou a entender o que acontecia e disse:
– Explique mais,
professor Coruja.
– Veja, todos nós
queremos proteção, não é verdade? Mas para termos proteção precisamos proteger.
Nós fazemos isto quando cuidamos das coisas dos outros, então eles também
cuidarão das nossas coisas. Se quisermos ter saúde, então precisamos também
querer nos cuidar, querer nos alimentar bem e querer praticar esportes e querer
dizer não.
– Como assim? –
perguntou o pássaro, que nunca havia visto alguém falar em não querer.
– Sim, pássaro, às
vezes é preciso não querer. Se você quer saúde, você não pode querer ser
guloso, preguiçoso e, principalmente, você não pode querer drogas, como
cigarro, a bebida e outras porcarias que só estragam a nossa saúde e a saúde
dos outros.
– Ah! Agora entendi.
O que realmente quero é ser feliz.
– E você deve querer
ser feliz, falou o professor Coruja. Mas para querermos ser feliz é preciso
também querer fazer os outros felizes. Quando fazemos os outros felizes, somos
felizes também. E foi então que o pássaro alegremente disse:
– Quero-quero,
quero-quero.
Despediu-se do
professor Coruja com grande alegria e retornou para o campo onde morava. Até
hoje esse pássaro chamado “quero-quero” vive alegremente nos campos chamando a
atenção de todos com seu canto.
– Quero-quero,
quero-quero…
Dizem que seu canto é
para lembrar a todos que escutarem que é preciso querer duas vezes; querer o
bem para si, mas também para os outros.
Estas são versões da
lenda do Quero-Quero.
O Quero-Quero é
considerado ave símbolo dos pampas gaúchos, pela
LEI Nº 7.418, DE 1º
DE DEZEMBRO DE 1980. Institui como Ave-Símbolo do Rio Grande do Sul.
Pesquisa de:
Sandra Ferreira / 1
chinoca do CTG Sentinelas do Pago
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