quinta-feira, 19 de agosto de 2021

POESIA - Sonhos de um Guri Campeiro


Autor: Leandro Araújo

 

Muito mais que somente um guri,

É um pequeno homem das lidas campeiras.

De calça curta e pés no chão,

Na cabeça, um chapéu velho de aba quebrada

-Herança do seu avô-

E na cintura, uma cherenga

Presa num tento de couro cru.

 

Na escola do galpão

Aprendeu a amar o pago.

Ouvindo os versos de algum xirú

Ou um bordonear de guitarra,

Nem pensa em deixar a estância

Por povoeiras ilusões.

 

Os sonhos de um guri campeiro

São estrelas que se fundem

Num céu de imagens rurais

Onde a pata de cavalo e a ponta de lança

São luzeiros que iluminam as fantasias

E guiam os passos de um piá.

 

Quando um velho conta um causo

Se deixa cabrestear

Pelas histórias de guerra,

E nas rodas de galpão

Sonha que é herói

De lenço colorado no pescoço,

Montando o flete mais lindo

E com a espada firme na mão.

 

E o guri vira soldado

Nas arrancadas de "Noventa e Três",

É Adão Latorre nas degolas

Frente a Maneco Pedroso

Para a bênção sangrenta

No fio da adaga colorada.

Mas, sem entender o porquê das guerras,

Passa de Honório a Flôres

-Foi chimango e maragato

Nos causos de "Vinte e Três"

Pois pra ele a cor do lenço não justifica

Lutar irmão contra irmão.

 

Não sonha com naves loucas

Ou com seres de outro mundo,

Viaja no lombo dos pingos

Nas cargas de lança

E nos tiros de laço.

Era soldado e peão

Nos tempos que o fio de barba

Era o documento mais honrado.

Mas...

Antes mesmo

Do sol brotar por entre os serros

As infantis fantasias

Viram terrunhas realidades:

Buscar as vacas de leite,

Trazer água da cacimba,

Campear uma rês perdida,

Cumprir a faina exigida

Porque na lida de campo

Trabalho não tem idade.

 

Aproveita, guri!

Ainda és novo!

O teu inseguro porvir

Tirará estrelas do céu,

E os teus mágicos devaneios

Darão lugar a tristes realidades.

O soldado peão de teus encantos

Se apagará da memória

E as guerras fantasia

Serão lutas de sustento

Contra máquinas letais.

Na construção de um novo mundo

Não haverá lugar para sonhos.

O teu trabalho de campeiro

Vai sumir nas construções.

Sonha, sonha enquanto há tempo,

Pois os sonhos acalentarão

Teu futuro de incertezas.

 

 

Antonia Valim 


 

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