quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Causo gaúcho - Tempos dos Coronéis.

 


Naqueles tempos distantes quando não havia métodos seguros de anticoncepção, as famílias eram grandes, muitos filhos à volta da mesa nas horas das refeições.

E havia um coronel feito a facão nos tempos das revoluções, das peleias entre pica-paus, maragatos, chimangos. Seu nome era Genuário. Casado com dona Emerenciana, já tinham dezoito filhos.

Pós não é que o medico da vila foi chamado por um peão do coronel pra atender a referida senhora que esperava o décimo nono filho?

Muito preocupado com o que poderia acontecer com a parturiente, o “doutor” pegou sua maleta de médico e se foi a cavalo em direção à fazenda do Coronel Genuário.

Lá chegando, encontrou o homem preocupado com o estado da mulher, que enfrentava muitas dificuldades no parto. Os gritos dela se ouviam em toda a casa grande e chegavam até o galpão onde a peonada mateava, cabisbaixa, também apreensiva com o que poderia acontecer com a Dona Emerenciana que era tão boa pra eles.

O Coronel fumava palheiro e jogava cada baforada de fumaça que chegava a nublar o ambiente da sala espaçosa, caminhava de um lado para outro. Às vezes, botava as mãos atrás das costas e chegava suar frio.

O médico entrou no quarto da Dona Emerenciana, demorou quase uma hora e, finalmente, a casa vibrou com um choro forte de criança; nascia o décimo nono filho do casal.

Meia hora depois do choro, o médico chamou o Coronel Genuário para o quarto, a fim de conhecer o filho recém nascido e para ter, segundo o doutor, uma conversa muito séria com o casal.

O homem entrou no quarto penumbroso, viu o filho mamando, a esposa aliviada.

Então, o médico falou:

   -Coronel Genuário e Dona Emerenciana, por favor! Atendam o meu conselho. Vocês não podem mais ter filhos! Quase que a senhora morreu! O parto foi muito difícil. A senhora, Dona Emerenciana, não vai aguentar mais um parto. A senhora não tem mais saúde para ter filhos.

   - A senhora entendeu bem o que eu falei, Dona Emerenciana?

   -Sim, doutor.

   -E o senhor, Coronel, entendeu o que eu falei???

   -Entendi, doutor! Ué, o que se vai fazer? Tá fechada a fábrica!

E o doutor ainda enfatizou

   -É bom que entenderam! Se a Dona Emerenciana ficar grávida de novo, ela vai morrer! Entenderam? VAI MORRER!

 O médico foi embora e o Coronel Genuário, preocupado em atender ao conselho, mudou até de quarto. Afinal, ninguém é de ferro.

Passou-se um mês , passou-se outro mês.

Em certa noite, de verão, ouviram-se batidas na porta do quarto do Coronel, e como ele roncava como um porco, após as batidas se ouviu a voz de uma mulher. Era a Dona Emerenciana.

E o diálogo foi mais ou menos assim, que acordou a casa inteira da fazenda:

   -Abre a porta, Genuário!

   -Ué, o que tu quê, muié?

   -GENUÁRIO, EU QUERO MORRÊ!!!!

 

 

Pesquisa de:

 Sandra Ferreira / 1 chinoca do CTG Sentinelas do Pago.


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