quinta-feira, 26 de agosto de 2021

POESIA- Cantos de Amor ao Campo


Autor: Leandro Araújo

 

Eis o Campo!

Imensidão verde e viva.

...horizontes infinitos.

 

A procedência das mortes

das mãos de quem quer conquista

se veio de outros campos.

Não mais instinto buscando a vida nas caçadas...

Não mais sobrevivência no sangue que se derrama...

Agora é coragem com a conquista dos tauras.

- cobiça que faz verter sangue novo -

E o campo tornou-se berço

para progênie dos homens.

 

E então mais homens nasceram,

cresceram, morreram e

Muitos mataram em teu seio.

O homem que te fez berço

em leito de morte moldou-te.

Mas tu, Campo,

sempre ficaste...

Verde, imenso e vivo!

Antes das naus portuguesas

cortarem as águas

vindas de trás do horizonte,

trazendo em seu bojo

o cavalo e o boi,

- e a branca conquista -

teu verde imponente

emponchava as coxilhas.

O som que se ouvia nos capões e grotas

não era o berro dos touros,

o relincho dos potros ou farromas povoeiras

com gaitas e vozes.

 

O ronco dos bugios,

o cantar das cigarras,

o lamento tristonho do velho urutau...

o eco dos ventos nas canhadas vazias.

O pio da coruja que

não trazia agouros ou anúncios macabros,

mas sim o sustento na força das garras

pra inocência dos ninhos.

As vozes charruas

No aconchego das tabas

e o canto das águas

eram os donos da terra.

 

Daí então o europeu se veio...

ganância e conquista no domínio das cartas

conquista e cativos na sombra das cruzes.

Mas tu, campo velho! Permaneceu verde e imenso,

como quem finca o garrão e não muda,

entesando a origem e mantendo a forma.

 

E os andantes passaram no mais...

Missionários catequistas.

Bandeirantes e exploradores.

Guerreiros e mercenários.

Tropeiros e fugitivos.

Colonos, ladrões de gado,

Soldados e coronéis.

 

Mesmo nas guerras

quando a mão magra da morte

semeou a coxilha com rosas vermelhas,

os bibis floresceram por entre os trevais,

- zombando da morte -

insistindo em nascer.

Ironias da guerra

que os campos em paz

nos ensinam a fazer.

Por isso quando o vento assobia cantigas nas matas,

agitando o arvoredo...

Os salsos ensaiam singelas carícias,

pagando suas dívidas de carinho e amor

usando suas folhas como as pontas dos dedos.

 

Hoje,

o olhar dos campeiros

mirando o horizonte,

enxerga mais campos

e neles se perde,

pois neles se encontra.

Olhando a si mesmo

com verdes na alma,

lagoas nos olhos

e correntezas no sangue!

 

Campo!...

Teu coração bate no peito do campeiro

e tua alma vive em cada ninho que abrigas,

em cada furna,

em cada rancho de paredes barreadas

que alicerças com força paternal

e acolhes com ternura de mãe.

 

Estás tão vivo quanto nós!

Ou melhor.

Mais ainda!

Porque em ti a vida brota

Como os bem-me-queres

- sem pedir licença,

nem pagar morada.

 

O modernismo então se veio, campo...

O aço e o cimento mancharam de cinza tuas cores

e a ânsia povoeira fez crescer a cobiça.

A imensidão verde de outros tempos

hoje é uma paródia de tua própria história

de um tempo de origem,

de um tempo de glória

despojado à sombra das grandes cidades.

 

O tempo foi usurpando as verdades.

A música que se ouve nos campos de hoje

são das cordas do aramado,

compondo em cifras amargas

dedilhadas pelos ventos,

nos atilhos, tramas e moirões,

melancólicas melodias,

latifúndios e solidão.

Os homens se adonaram de ti, campo...

Rasgaram tua carne

e mancharam de rubro teu verde

 

Nos peçuelos da lembrança,

levo as cordas de embira,

as sesteadas no pasto,

as coxilhas e cerros...

A vida que brota em linda comunhão.

Porque, se teimo em morrer aqui,

é que também quero ser campo

e me imortalizar neste santo chã

  

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