Eis o Campo!
Imensidão verde e
viva.
...horizontes
infinitos.
A procedência das
mortes
das mãos de quem quer
conquista
se veio de outros
campos.
Não mais instinto
buscando a vida nas caçadas...
Não mais
sobrevivência no sangue que se derrama...
Agora é coragem com a
conquista dos tauras.
- cobiça que faz
verter sangue novo -
E o campo tornou-se
berço
para progênie dos
homens.
E então mais homens
nasceram,
cresceram, morreram e
Muitos mataram em teu
seio.
O homem que te fez
berço
em leito de morte
moldou-te.
Mas tu, Campo,
sempre ficaste...
Verde, imenso e vivo!
Antes das naus
portuguesas
cortarem as águas
vindas de trás do
horizonte,
trazendo em seu bojo
o cavalo e o boi,
- e a branca
conquista -
teu verde imponente
emponchava as
coxilhas.
O som que se ouvia
nos capões e grotas
não era o berro dos
touros,
o relincho dos potros
ou farromas povoeiras
com gaitas e vozes.
O ronco dos bugios,
o cantar das cigarras,
o lamento tristonho
do velho urutau...
o eco dos ventos nas
canhadas vazias.
O pio da coruja que
não trazia agouros ou
anúncios macabros,
mas sim o sustento na
força das garras
pra inocência dos
ninhos.
As vozes charruas
No aconchego das
tabas
e o canto das águas
eram os donos da
terra.
Daí então o europeu
se veio...
ganância e conquista no domínio das cartas
conquista e cativos
na sombra das cruzes.
Mas tu, campo velho!
Permaneceu verde e imenso,
como quem finca o
garrão e não muda,
entesando a origem e
mantendo a forma.
E os andantes
passaram no mais...
Missionários
catequistas.
Bandeirantes e
exploradores.
Guerreiros e
mercenários.
Tropeiros e
fugitivos.
Colonos, ladrões de
gado,
Soldados e coronéis.
Mesmo nas guerras
quando a mão magra da
morte
semeou a coxilha com
rosas vermelhas,
os bibis floresceram
por entre os trevais,
- zombando da morte -
insistindo em nascer.
Ironias da guerra
que os campos em paz
nos ensinam a fazer.
Por isso quando o
vento assobia cantigas nas matas,
agitando o arvoredo...
Os salsos ensaiam
singelas carícias,
pagando suas dívidas
de carinho e amor
usando suas folhas
como as pontas dos dedos.
Hoje,
o olhar dos campeiros
mirando o horizonte,
enxerga mais campos
e neles se perde,
pois neles se
encontra.
Olhando a si mesmo
com verdes na alma,
lagoas nos olhos
e correntezas no
sangue!
Campo!...
Teu coração bate no
peito do campeiro
e tua alma vive em
cada ninho que abrigas,
em cada furna,
em cada rancho de
paredes barreadas
que alicerças com
força paternal
e acolhes com ternura
de mãe.
Estás tão vivo quanto
nós!
Ou melhor.
Mais ainda!
Porque em ti a vida
brota
Como os bem-me-queres
- sem pedir licença,
nem pagar morada.
O modernismo então se
veio, campo...
O aço e o cimento
mancharam de cinza tuas cores
e a ânsia povoeira
fez crescer a cobiça.
A imensidão verde de
outros tempos
hoje é uma paródia de
tua própria história
de um tempo de
origem,
de um tempo de glória
despojado à sombra
das grandes cidades.
O tempo foi usurpando
as verdades.
A música que se ouve
nos campos de hoje
são das cordas do
aramado,
compondo em cifras
amargas
dedilhadas pelos
ventos,
nos atilhos, tramas e
moirões,
melancólicas
melodias,
latifúndios e
solidão.
Os homens se adonaram
de ti, campo...
Rasgaram tua carne
e mancharam de rubro
teu verde
Nos peçuelos da
lembrança,
levo as cordas de
embira,
as sesteadas no
pasto,
as coxilhas e
cerros...
A vida que brota em
linda comunhão.
Porque, se teimo em
morrer aqui,
é que também quero
ser campo
e me imortalizar
neste santo chã
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