Hoje nossa cultura gaúcha tem maior
reconhecimento mas nem sempre foi assim nosso Rio Grande precisou de jovens que
mudassem o pensamento das pessoas e mostrasse o quão rica e divercificada nossa
cultura é...Com a fundação do primeiro CTG, as coisas começaram a se tornar
mais reais e o nosso tradicionalismo cada vez algo maior...
No Fim da II Guerra Mundial, o mundo
ocidental, encontrava-se com grande influência exercida pela posição dos
Estados Unidos. Tornou-se, assim, o principal centro de irradiação da moda, da
cultura e as elites urbanas, principalmente os jovens, começaram a imitar o
americano "way of life".
Com rapidez, a juventude voltava as
costas para as suas raízes culturais, e os intelectuais rio-grandenses
demonstravam sua insatisfação com aquele estado de coisas, e tinham a consciência
de que as pressões do modismo americano sufocava a cultura local, o Rio Grande,
de resto, o mundo todo.
O Brasil estava saindo da ditadura de
Getúlio Vargas, que havia amordaçado a imprensa, que e prejudicava o
desenvolvimento e prática das culturas regionais. Com isso, perdia-se o
sentimento de culto às tradições; nossas raízes estavam relegadas ao
esquecimento, adormecidas, reflexo da proibição de demonstrações de amor ao
regional. Bandeiras e Hinos dos estados foram, simbolicamente, queimados em cerimônia
no Rio de Janeiro e, diante de tudo isso, os gaúchos estavam acomodados àquela
situação, apáticos, sem iniciativa.
2. "O GRUPO DOS OITO"
Mas nem todos estavam adormecidos.
Em agosto de 1947, em Porto Alegre,
eclodiu forte uma proposta de esperança, onde a liberdade e o amor à terra
tinham vez e lugar. Jovens estudantes, oriundos do meio rural, de todas as
classes sociais, liderados por Paixão Cortes, criam um Departamento de
Tradições Gaúchas no Colégio Júlio de Castilhos, com a finalidade de preservar
as tradições gaúchas, mas também desenvolver e proporcionar uma revitalização
da cultura rio-grandense, interligando-se e valorizando-a no contexto da
cultura brasileira. Dentro deste espírito é que surge a criação da Ronda
Crioula , estendendo-se do dia 7 ao dia 20 de setembro, as datas mais
significativas para os gaúchos.
Entusiasmados com a idéia procuraram
a Liga de Defesa Nacional, e contataram o então Major Darcy Vignolli,
responsável pela organização das festividade da "Semana da Pátria, e lhe
expressaram o desejo do grupo de se associarem aos festejos, propondo a
possibilidade de ser retirada uma centelha da "Fogo Simbólico da
Pátria" para transformá-la em "Chama Crioula", como símbolo da
união indissolúvel do Rio Grande à Pátria Mãe, e do desejo de que a mesma
aquecesse o coração de todos os gaúchos e brasileiros durante até o dia 20 de
setembro, data magna estadual. Nessa oportunidade, Paixão recebeu o convite
para montar uma guarda de gaúchos pilchados em honra ao herói farrapo, David
Canabarro, que seria transladado de Santana do Livramento para Porto Alegre.
Paixão Cortes, para atender o honroso
convite, reuniu um piquete de oito gaúchos bem pilchados e, no dia 5 de
setembro de 1947, prestaram a homenagem a Canabarro. Esse piquete é hoje conhecido
como o Grupo dos Oito, ou Piquete da Tradição. Primeira semente que seria
semeada no ano seguinte, na criação do "35" CTG. Antônio João de Sá
Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilso Araújo Campos,
Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos
Paixão Cortes, seu líder. Durante o cortejo, o "grupo dos Oito", os
jovens estudantes, conduziam as bandeiras do Brasil, do Rio Grande e do Colégio
Júlio de Castilhos.
3. CHAMA CRIOULA E 1ª
RONDA
Como haviam decidido, no dia 7 de
setembro, à meia noite, antes de extinto o "fogo Simbólico da
Pátria", Paixão Cortes, na companhia de Fernando Machado Vieira e Cyro
Dutra Ferreira, retirou a hoje cinqüentenária "Chama Crioula", que ardeu
em um candeeiro crioulo até a meia noite do dia 20 de setembro, quando foi
extinta no Teresópolis Tênis Clube, onde se realizava o primeiro Baile Gaúcho,
por eles organizado.
Durante a Ronda Crioula, os jovens
pioneiros realizaram intervenções em programas da Rádio Farroupilha, entraram
em contato com o escritor Manoelito de Ornelas , o qual noticiou os
acontecimentos da Ronda pelo Jornal Correio do Povo, e Porto Alegre.
Com a Ronda, outros jovens
companheiros foram se agregando às comemorações: Barbosa Lessa, Wilmar Santana,
Glaucus Saraiva, Flávio Krebs, Ivo Sanguinetti e outros tantos. Após o sucesso
da Ronda, mas principalmente pela decisão tomada em manterem-se unidos para
matear e prosear , o que se realizava na casa de Paixão Cortes.
4. A INCLUSÃO DE BARBOSA LESSA NO MOVIMENTO
Especial episódio diz respeito à
inclusão de Barbosa Lessa ao núcleo formado por Paixão Cortes. Barbosa Lessa
presenciou a passagem da guarda à Canabarro quando encontrava-se na Praça da
Alfândega e, tomado de interesse, tratou de saber quem eram aqueles que ali
estavam. Soube tratar-se de alunos do "Julinho". Como também era
aluno da mesma escola, tratou de conhecê-los. Dois dias após, quando a Chama
Crioula chegou ao "Julinho", lá encontrou Barbosa Lessa como um dos
participantes e organizadores da 1ª Ronda Crioula. O entrosamento com o grupo
foi acelerado quando o piratinense começou a registrar, num caderno escolar, a
assinatura dos interessados na fundação do que chamava " Clube de Tradição
Gaúcha.
5. A INCLUSÃO DOS
ESCOTEIROS DA PATRULHA DO QUERO-QUERO
Lessa soube que havia um grupo
querendo fazer algo semelhante, e que eram liderados por Hélio José Moro.
Buscou articular uma reunião para unificação de idéias. Da conversa mantida,
realizada num bar existente no subsolo do Cine Victória, ficou claro o desejo
do outro grupo, escoteiros da Patrulha do Quero-quero e da Maçonaria, dos quais
participava Glaucus Saraiva: desejavam um grupo fechado, com 35 pessoas, em
homenagem a Revolução de 1835. Enquanto isso, o grupo do "Julinho"
queria um fogo-de-chão, onde pudessem tomar um chimarrão e uma entidade mais
aberta, disponível para a sociedade; também haviam àqueles que queriam o acesso
somente de campeiros, mas todos tinham um objetivo comum: defender as nossas
tradições.
Como mostram as atas das primeiras
charlas, as divergências eram muitas, prolongando-se, umas, por alguns anos.
Quando a rapaziada estava com os ânimos exaltados, tinha papel importante as
interferências moderadoras do Tio Waldomiro Souza, poeta gabrielense, e de
Olavo Fay Macedo.
Apesar das divergências, Lessa afirma
que todos tinham vontade férrea para levar as coisas adiante, tanto que
produziram um calendário em que definia março como a data da fundação, o que
veio a acontecer em 24 de abril de 1948.
A maioria das reuniões aconteciam aos
sábados pela tarde, muitas vezes na casa de Cyro, pois Paixão Cortes viajava
com certa freqüência. O grupo começava a aumentar e, num determinado momento,
Dona Fátima, mãe de Paixão, disse-lhe que não seria mais possível fazer
reuniões em sala e quarto da casa. Nesse momento, José Laerte Vieira Simch,
filho do Dr. Carlos Alfredo Simch, cedeu o porão dos Simch, na rua Duque de
Caxias nº 704, pois as reuniões não poderiam parar, visto que se reforçava ,
cada vez mais, a idéia de verem criada uma entidade onde pudessem cultivar e
preservaras as tradições gaúchas.
7. SEDE PROVISÓRIA NA
FARSUL
Passado o tempo, lá embaixo, no porão
dos Simch, o espaço também se tornou pequeno para o número crescente de adeptos
e, através do pai do Cyro Dutra Ferreira, diretor geral da FARSUL,
possibilitou, em maio de 1948, a transferência do grupo para uma de suas salas
e no terraço daquela entidade, localizada na esquina da Borges de Medeiros com
a Rua Riachuelo, logo após a concretização da fundação oficial da nova entidade
em 24 de abril de 1948: o "35" Centro de Tradições Gaúchas. De
pronto, o "35" começou a estender suas atividades ao auditório da
FARSUL, realizando, a li, conferências, sessões de estudo, tertúlias e outros
eventos artísticos - culturais.
Por estatuto do "35", são
seus fundadores os que assinaram a ata lavrada em 24 de abril de 1948, os
integrantes dos "Grupo dos Oito", e aqueles que assinaram as atas
anteriores à reunião de fundação : Presentes reunião para a fundação realizada
em 24 de abril de 1948:
Antônio Cândido da Silva Neto;
Carlos Raphael Godinho Corrêa;
Dirceu Tito Lopes;
Flávio Ramos;
Flávio Silveira Dann;
Francisco Gomes de Oliveira;
Glaucus Saraiva da Fonseca;
Guilherme Flores da Cunha Corrêa;
Hélio Gomes Leal;
Hélio José Moro;
João Emílio Marroni Dutra;
José Laerte Vieira Simch;
Luiz Carlos Corrêa da Silva;
Luiz Osório Aguilar Chagas;
Ney Ortiz Borges;
Paulo Emílio Corrêa;
Paulo Caminha;
Robes Pinto Da Silva;
Valdez Corrêa;
Venerando Vargas da Silveira;
Waldomiro Souza;
Wilmar Winck de Souza.
Integrantes do "Grupo dos
Oito", que não compareceram à reunião de fundação, mas foram considerados
fundadores:
Cilso Araújo Campos
Cyro Dutra Ferreira.
Cyro Dias da Costa
Fernando Machado Vieira
João Machado Vieira
João Carlos Paixão Cortes
Orlando Jorge Degrazzia
Antônio João de Sá
Pesquisa de :
Antonia
Valim
Prenda Mirim
Farroupilha de Alvorada
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